domingo, 1 de maio de 2011

BRUM, Eliane. A vida que ninguém vê. Porto Alegre: Arquipélago editorial, 2006.

Com frases curtas e sempre literárias, Eliane Brum escreve sobre a vida de pessoas e situações comuns, de onde, aparentemente, não se aproveitaria quase nada de caráter factual jornalístico. Em grande parte a autora de ‘A vida que ninguém vê’ escreve sobre pessoas pobres, sofredoras e sonhadoras.

O foco das histórias de Eliane Brum está sobre os marginalizados, considerados loucos pela sociedade, onde há a intenção de se fazer uma crítica e ao mesmo tempo despertar o leitor a refletir como ele está captando as situações à sua volta. Cada história contada em ‘A vida que ninguém vê’ nos faz enxergar o cotidiano de outra forma, perceber as mesmas coisas de maneira diferente.

Como a própria autora diz, seu interesse não era pelo homem que morde o cachorro e sim pelo cachorro que morde o homem, representando um novo desafio de mostrar que cada Zé é um Ulisses e cada pequena vida é uma Odisseia. E para que isso ocorra – o desenvolvimento de um novo olhar – se faz necessário para o jornalista ‘sujar os sapatos’, ir às ruas e ter o encontro com o personagem da história a ser contada, pois as mediações feitas pelas máquinas tecnológicas jamais substituirá esse contato.

Se para Eliane Brum, o dito é tão importante quanto o não dito, ela não hesitou em publicar uma declaração de uma fonte que pediu para não ser citado. Em ‘Frida...’, o vereador Dib não queria ter seu nome naquela crônica-reportagem mas, o desejo de Eliane contar o drama anônimo de Frida levou-a a fazer o oposto do que se preza no jornalismo clássico.

‘A vida que ninguém vê’ desperta não só um novo jeito de olhar o comum, mas também suscita uma vontade de sair espiando o mundo, escrevendo sem a obrigação de ‘encaixotar a vida em parágrafos e preencher planilhas com aspas predeterminadas’.

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