segunda-feira, 2 de maio de 2011

A vida que ninguém vê – Eliane Brum

O livro “A vida que ninguém vê”, escrito pela jornalista Eliane Brum, nada mais é do que a compilação de perfis de pessoas comuns e por esse motivo, fascinantes.

Desde a “História de um olhar” percebe-se a escrita característica e envolvente da autora. Não apenas isso, como também a sua extrema sensibilidade e entrosamento com os personagens da vida real, os quais dá corpo e substância nas páginas do livro.

Todos os perfis mostram que a vida, por mais simples ou difícil que possa ser, é encantadora e interessante em inúmeros aspectos. Como a própria Brum diz, o oposto do que busca o jornalismo clássico, as coisas aparentemente desimportantes podem ser extraordinárias, assim como as vidas de anônimos e até as nossas próprias.

Pode-se perceber o dom e a capacidade que Brum possui de deixar as pessoas confortáveis na sua presença. Dessa forma, permitem que entre nas suas vidas ao abrirem as portas para que ela mergulhe em seus universos e possa os retratar de forma direta, literária e intimista, em uma narrativa cativante.

Não há quem não se encante por Adail e o seu sonho tão simples, embora distante para ele, ou quem não reflita sobre a condição das milhares de Camilas invisíveis nas sinaleiras, ou que não ache incrível como as aparências podem esconder por trás de um rosto idoso amável, um passado tão sofrido e bárbaro.

A vida que ninguém vê é leitura obrigatória para os estudantes de jornalismo ou para qualquer pessoa interessada na realidade cotidiana, principalmente dos seres humanos, que é passada despercebida por muitos. Esse livro nos leva a reflexão e nos propõe o desafio de ampliar o olhar para a vida que nos rodeia. Pois olhar não basta, temos que perceber e sentir.


Por: Thuanne Silva

A vida que ninguém vê - Eliane Brum

A vida que ninguém vê é um livro escrito pela jornalista Eliane Brum, onde o leitor encontra os mais variados perfis feitos pela autora. O mais interessante no livro é que diferente da maioria dos jornalistas, que se preocupam em fazer perfis de pessoas conhecidas na mídia, Eliane escreve os perfis daqueles que não tem nenhum tipo de visibilidade, daqueles que, aparentemente, não se constituem como notícia.

A leitura do livro leva a perceber que não existe uma fórmula para se fazer perfil. Eliane ousa e consegue fazer os perfis mais variados e desconexos. Ela vai do perfil de uma estátua em “O conde decaído” ao dos animais de um zoológico em “O cativeiro”.

É nítido que fazer perfis tão bem ou comparáveis com os de Brum é mais uma questão de dom do que prática. Eliane consegue traduzir com palavras todas as particularidades de seu perfilado. Constituindo o perfil um espelho físico e psicológico do entrevistado. Não há quem não simpatize com a simplicidade de Adail, rapaz que sonhava em voar de avião ou quem não se sensibilize com o sofrimento da família de Antônio de “Enterro de pobre”.

Alguns perfis nos levam a perceber que é preciso mais que uma entrevista para se propor a escrever a trajetória, retratar a vida de uma pessoa. É preciso conviver com ele, descobri-lo pelos olhos de outros. O dom que Eliane tem para a escrita é tamanho, que ela consegue transformar aquele que convencionalmente chamaríamos de lixeiro e/ou maluco em um “colecionador das almas sobradas”, confesso que ela quase me fez admitir ter um vizinho como seu Oscar. Mas, reitero que foi quase.

Analisando os textos do livro o que se percebe é que o texto de perfil aproxima-se mais de um texto literário e lúdico do que dos formais e sisudos textos jornalísticos. Mas, igualmente a eles requer um trabalho um trabalho de investigação e seleção de fatos, além de certa aptidão literária.

domingo, 1 de maio de 2011

BRUM, Eliane. A vida que ninguém vê. Porto Alegre: Arquipélago editorial, 2006.

O Livro "A Vida que Ninguém Vê" de Eliane Brum é um retrato de vida e histórias que são contempladas por um outro ponto de vista. São histórias simples, cotidianas, de pessoas e lugares vistos por uma faceta diferente.

Dentro do Jornalismo diário, ganham destaques as notícias ou histórias que possuem valor notícia, aquilo que é factual, que atrai. Brum consegue, através do seu livro, mostrar que muito do que acontece no dia a dia, no cotidiano, nos aspectos mais simples da vida de uma pessoa, pode sim ser "notícia", pode virar história.

A autora vai além, mostra que contar histórias sobre as pessoas que estão à margem da sociedade e são considerados loucos, podem ser muito interessentes. Na realidade, loucos são aqueles que não se encaixam numa determinada realidade, e muito da escolha desse tema se mostra de modo a criar uma reflexão sobre esse outro lado da vida que muitas pessoas não exergam, é "a vida que ninguém vê".

A partir do livro de Brum, esse lado da "vida que ninguém vê" passa enfim a ser visto. De maneira muito didática e interessante, a autora consegue atrair a atenção do leitor e, ao mesmo tempo, trata de um assunto que merece um certo destaque na sociedade.

Resumo do livro “A vida que ninguém vê” – Eliane Brum

No livro “A vida que ninguém vê”, a realidade é abordada sob o ponto de vista de uma mulher jornalista, repórter, consagrada no meio jornalístico. Ao contar histórias curtas, crônicas, baseadas em” fatos reais, de pessoas comuns e situações corriqueiras”, segundo o próprio prefácio de Marcelo Rech, a jornalista provou que para conquistar público e audiência, não é preciso estampar aberrações ou atrocidades no corpo do texto.

Inicialmente eram colunas semanais, no total de 46, depois de onze meses no jornal, as histórias viraram páginas de livro,que viraram fenômeno jornalístico e conquistou Premio Esso de Jornalismo- Regional Sul.

Um homem rejeitado por todos e sem rumo na vida, “o negão” das bagagens, o enterro do pobre, um bambino vairado, o colecionador de almas sobradas, e tantas outras histórias ganham uma nova luz e perspectiva sobre as mãos da escritora.

A linguagem é simples,sem muitos rodeios, um pouco de sensibilidade com os fatos e poeticidade com as palavras, um pouco de ficção e outro tanto de realidade.

BRUM, Eliane. A vida que ninguém vê. Porto Alegre: ed. Arquipélago Editorial, 2006.

A vida que ninguém vê, da jornalista gaúcha Eliane Brum, é uma coletânea, organizada em 2006, dos textos publicados em sua coluna no jornal Zero Hora no fim dos anos 1990. São textos essencialmente literários, de caráter crônica-reportagem, que buscavam resgatar a beleza – ou a fealdade incômoda – das situações cotidianas que a população (gaúcha, no caso) vive, mas que não enxerga ou opta por não enxergar. Já nas últimas páginas, Eliane faz uso do clichê jornalístico sobre a notícia (“o homem que morde o cachorro”) para afirmar que o cachorro que morde o homem também pode ser interessante e inusitado.
                Os textos, que podem ser vistos como perfis, diferenciam-se não pela fama dos indivíduos ou das situações que tratam, mas pelo extraordinário do comum.
                Dois de seus perfis, “Adail quer voar” e “Enterro de pobre”, receberam uma espécie de continuação: “O dia em que Adail voou” e “Depois da filha, Antônio sepultou a mulher”, respectivamente. São dois dos textos mais envolventes da coletânea, bem como são os que mais trazem o leitor de volta à realidade, uma vez que Eliane tem uma escrita fluida e descritiva que, em certo momento, o leitor de sua obra pode começar a encarar todas aquelas histórias como ficção e entretenimento, ainda que de qualidade.
                “Adail quer voar” apresenta Adail José da Silva, funcionário do Aeroporto Salgado Filho há 36 anos, os quais passou apenas observando os aviões decolarem, sem nunca ter estado dentro de um deles. Seu principal desejo era viajar na aeronave, para que pudesse pagar uma promessa a Nossa Senhora, na tradicional cidade de Aparecida, em São Paulo. Neste dia, seria tratado como “doutor”. A vida de Adail, contudo, não é ficção, de modo que sua história não acabou ao fim do texto de Eliane Brum. Uma companhia aérea, então, decide patrocinar o sonho do gaúcho. E, assim, é que Adail vira personagem novamente, em “O dia em que Adail voou”.
                “Enterro de pobre”, por sua vez, narra um episódio da vida de Antônio, ao enterrar a filha que nem sequer conheceu. Segundo Brum, não há nada mais triste do que enterro de pobre, visto que o pobre começa a ser enterrado ainda vivo – enterrado e engolido pelo mundo. Apesar de, na coletânea, “Depois da filha, Antônio sepultou a mulher”, ser um dos últimos textos, a continuação da triste saga de Antonio se dá cinco dias depois. Sua mulher, Lizete, morreu de um AVC (Acidente Vascular Cerebral) devido ao sangue perdido com as complicações do parto. Sem apelar para a pieguice, Brum consegue traduzir para o seu leitor a dor de Antonio, bem como sua resignação.
                É em textos como “O conde decaído” e “O álbum”, entretanto, que a autora consegue transcender sua incumbência de retratar a vida de pessoas, pura e simplesmente. Ao narrar situações provenientes de dois seres inanimados (uma estátua de mármore de um antigo conde de Porto Alegre e um álbum encontrado na rua), que a jornalista se supera, ao revelar como objetos “invisíveis” e renegados ao esquecimento foram e ainda podem ser significativos para alguém. Desmistifica, ainda, a idéia de que perfis são, unicamente, sobre pessoas específicas, pois podem ser sobre tudo. 

Por Thais Borges

BRUM, Eliane. A vida que ninguém vê. Porto Alegre: Arquipélago editorial, 2006.

“A vida que ninguém vê” expressa perfeitamente a convicção que Marcelo Rech coloca no prefácio: “tudo pode virar uma grande reportagem na mão de um grande repórter”. Eliane Brum mostra como transformar em grandes histórias fatos tratados normalmente de forma simplória e, as vezes, como um cotidianos ingrato para os excluídos e esquecidos. O livro é uma compilação da coluna de quase 11 meses da jornalista no jornal “Zero Hora” de Porto Alegre em 1999, que lhe rendeu um “Prêmio Esso de Jornalismo – Regional Sul”.

Com uma narrativa envolvente que se utiliza de uma adjetivação precisa, pertinente e nem um pouco aleatória, Brum traz histórias de pessoas normais que, por exemplo: têm um sonho comum; que é exemplo de superação e sofre preconceito; que têm comportamentos fora do padrão e não são compreendidas. Histórias que só foram encontradas pela disposição da repórter em buscá-las nas ruas e do seu diretor de redação, Marcelo Rech, em propor a essa experiência no jornal.

Uma das histórias que mais marca e faz refletir no livro é a de Eva, “Eva contra as almas deformadas”. Ela é negra, pobre e teve paralisia cerebral. Tudo isso poderia fazê-la conformar-se com sua situação e colocar-se como uma coitada, digna de pena. Eva se recusa a representar esse papel, supera suas limitações, se forma educadora (pagando a faculdade trabalhando como doméstica), consegue emprego, é demitida, presta concurso público, é a provada em nono lugar nas provas e reprovada no exame neurológico. É vítima de uma série de preconceitos nesse percurso e em 14 de Agosto de 1999 (data de publicação), trabalhava como domestica e esperava pelo julgamento no Supremo Tribunal Federal do recurso contra o resultado do concurso.

Outra história representativa do livro é a de Leandro, “O menino do alto”. Vivia no Morro da Polícia, foi atropelado e entrou em coma. No hospital seu tratamento foi negligenciado, pois enquanto estava em coma deveria receber fisioterapia para manter os membros ativos. O que não foi feito. Os médicos o mandaram de volta para casa sob o argumento de “que nada mais poderiam fazer por ele” (p. 72). Com a dedicação de seus pais e a ajuda de uma enfermeira que o descobriu no morro, Leandro pode entrar na fisioterapia e ter a esperança de voltar a andar.

Em “Olhar redentor”, de Paulo Lima, é citada uma frase supostamente dita por Julio Neto, membro da família dona do “Estadão”: “não sei por que vocês vivem fazendo tantas matérias com esses pobres, índios, sem-terra, favelados, moradores da periferia, da Amazônia. Essa gente toda nem lê o nosso jornal”. No livro, Eliane Brum vai de encontro a esse pensamento. Emerge para os leitores as histórias dos não leitores, coloca em pauta a realidade escondida na periferia, deitada na calçada, ignorada nas ruas.

Por Marcelo Argôlo

BRUM, Eliane. A vida que ninguém vê. Porto Alegre: Arquipélago editorial, 2006.

Com frases curtas e sempre literárias, Eliane Brum escreve sobre a vida de pessoas e situações comuns, de onde, aparentemente, não se aproveitaria quase nada de caráter factual jornalístico. Em grande parte a autora de ‘A vida que ninguém vê’ escreve sobre pessoas pobres, sofredoras e sonhadoras.

O foco das histórias de Eliane Brum está sobre os marginalizados, considerados loucos pela sociedade, onde há a intenção de se fazer uma crítica e ao mesmo tempo despertar o leitor a refletir como ele está captando as situações à sua volta. Cada história contada em ‘A vida que ninguém vê’ nos faz enxergar o cotidiano de outra forma, perceber as mesmas coisas de maneira diferente.

Como a própria autora diz, seu interesse não era pelo homem que morde o cachorro e sim pelo cachorro que morde o homem, representando um novo desafio de mostrar que cada Zé é um Ulisses e cada pequena vida é uma Odisseia. E para que isso ocorra – o desenvolvimento de um novo olhar – se faz necessário para o jornalista ‘sujar os sapatos’, ir às ruas e ter o encontro com o personagem da história a ser contada, pois as mediações feitas pelas máquinas tecnológicas jamais substituirá esse contato.

Se para Eliane Brum, o dito é tão importante quanto o não dito, ela não hesitou em publicar uma declaração de uma fonte que pediu para não ser citado. Em ‘Frida...’, o vereador Dib não queria ter seu nome naquela crônica-reportagem mas, o desejo de Eliane contar o drama anônimo de Frida levou-a a fazer o oposto do que se preza no jornalismo clássico.

‘A vida que ninguém vê’ desperta não só um novo jeito de olhar o comum, mas também suscita uma vontade de sair espiando o mundo, escrevendo sem a obrigação de ‘encaixotar a vida em parágrafos e preencher planilhas com aspas predeterminadas’.

BRUM, Eliane. A vida que ninguém vê - Porto Alegre : Arquipélago Editorial, 2006. 208p.

O livro de perfis de Eliane Brum, A vida que ninguém vê, tem uma leitura fácil e direta. Com histórias das mais variadas, a autora mostra aos leitores casos de pessoas, animais, gestos ou objetos que realmente garantem uma boa leitura. Com aspectos melodramáticos, Brum tem olhos perfeccionistas de tudo que se passa ao redor do(s) protagonista(s) de seus textos.

A autora faz seu papel diante o título do livro: mosta a vida que ninguém vê, que passa despercebida na correria diária. Traz história desconhecidas e rápidas que prendem a atenção. O livro pode ser lido rapidamente na dependência da disponibilidade do leitor que mergulha, folha por folha, nos 21 perfis na publicação da Editora Arquipélago. A obra é uma coleção das crônicas que Eliane produziu para o jornal Zero Hora de Porto Alegre, em 1999 e que lhe rendeu o Prêmio Esso de Jornalismo –Regional Sul.

Alguns perfis que mais chama atenção é “O Cativeiro” (p. 52) que retrata o cotidiano de alguns animais no zoológico, focando num macaco, que ficam trancafiados sua vida inteira para serem vistos pelas pessoas que por ali passam, sem poder aproveitar a liberdade que muitos animais racionais gozam.

“Enterro de Pobre” (p.34) é um dos mais dramáticos. O homem que vê o seu anjinho (assim são chamados no interior os recém-nascidos que falecem) morrer. Narra à trajetória desse homem triste que tinha acabo de enterrar um filho sem nem mesmo o rosto conhecer. Sem falar da dificuldade de manter vivo os seus outros quatro filhos.

Já em “Sinal Fechado para Camila” (p.124) Brum narra a história de uma jovem menina que tira o dinheiro de sua sobrevivência pedindo esmolas num semáforo, uma realidade escancarada no Brasil. Umas das partes mais interessantes da crônica é o que se refere a nossa reação no sinal vermelho, esperando aparecer o de seguir. “Você rezando para que o sinal mude de cor, fique verde, não de esperança, mas verde de fuga. Sinal livre para escapar do rosto da menina grudada na janela. Sujando seu patrimônio. Obrigando-o a tomar conhecimento da miséria dela”.

O livro de Brum mostra realmente aspectos da sociedade, uma generalização de vertentes sociais que podem ser mostrada num simples desenrolar de uma narrativa. O que mais impressiona é a escrita duma leitura atrativa. Eliane Brum, hoje na Época, é uma excelente contadora de história.

A vida que ninguém vê, Eliane Brum


 A gente comum, que se vê andando pelas ruas e que não ocupa espaço nas capas de revistas. Gente de verdade, feita de carne e osso, alegrias e desgraças. Gente que não rende boas histórias, porque gente que nem a gente não tem graça.
 Eliane Brum prova o contrário. O trabalhador, a dona de casa, o mendigo da praça e a criança remelenta ganham destaque e poesia nas páginas de “A vida que ninguém vê”, de maneira muito mais bonita que os romances da televisão. É lindo porque é real. Eliane mostra que há mais magia e emoção na realidade do que se ousa imaginar. São momentos de dor ou felicidade, de vitória ou de simples constatação do quanto a vida pode ser dura para quem não nasceu eleito.
 Talvez o mais surpreendente não sejam exatamente as histórias, mas a forma como são contadas. É lírico, mas sem pieguices, porque Eliane parece entender seus personagens e conectar-se com eles de uma forma impressionante. Eliane constrói perfis e narra trajetórias de vida com sensibilidade inigualável.
 Alguns se perdem, é verdade, e parecem um tanto reflexivos de mais, de maneira que não se consegue entender bem o que se passou. Percebe-se os sentimentos, mas não os fatos por trás deles. Isso trava um pouco a leitura e incomoda no sentido de ao final do conto não se compreende exatamente qual era a história. Mas são poucos esses exemplos, como “O álbum”.
 A crônica que mais me toca é exatamente a primeira, “História de um olhar”. Um rapaz perdido e desacreditado, a quem faltava tudo, mas que encontra uma razão de ser na escola. Sua relação com a professora e a maneira como Eliane descreve a ação de se ver nos olhos dela, se enxergar não mais o louco e descabido que todos viam, mas seu verdadeiro eu são emocionantes.
 Em outras, como “Enterro de pobre”, a realidade apavorante do Brasil choca e fere. Antônio perde a filha e vê para além da morte o significado da vida dos mais pobres. “Enterro de pobre é triste menos pela morte e mais pela vida”. Mais tarde, já no final do livro, sua história é retomada e descobre-se que, logo depois, Antônio também enterra sua mulher, vítima do precário sistema de saúde pública. Dois de seus filhos não andam e estão internados em estado grave com pneumonia. Ainda há mais dois, sadios, esperando pelo almoço num casebre alugado. É triste e dói, mas é a vida.
A vida que ninguém vê é assim. Dá um milhão de motivos pra rir e pra chorar. Tem esperança, tem alegria, tem realização, tem muito sofrimento. Tem a história de quem apanhou muito e não desistiu, às vezes porque não sabia que tinha esse direito.

 Por Flávia Faria

Comentário - Eliane Brum

Livro: A vida que ninguém vê (2006)
Autora: Eliane Brum
Aluna: Nathália M. C. Mattos

O livro “A vida que ninguém vê” é um conjunto de perfis escritos por Eliane Brum, que conta a história de pessoas, que apesar de às vezes estarem presentes no mesmo lugar que tantas outras, é como se ninguém as visse.

Dessa maneira, ela traz perfis de pessoas comuns, desconhecidas, mas, que tem belas histórias de vida. O trabalho da jornalista se baseia na ideia de que tudo pode virar uma grande reportagem nas mãos de um grande repórter.

Ao ler o livro, a minha primeira providência com a leitura dos primeiros perfis, foi tratar de avaliá-los com estrelas, como a padronização hoteleira, até classificar os melhores com as famosas “cinco estrelas”.

Desse modo, apresentarei breves relatos dos perfis que eu não gostei: “O conde decaído” e “O álbum”.

Ambos não entraram na minha classificação de estrelas. As histórias me pareceram muito confusas, dispersei minha atenção durante a leitura, além de achá-las pouco interessantes.

Entretanto, quatro perfis do livro me fizeram dar a máxima avaliação, recebendo assim as cinco estrelas. Foram histórias que emocionaram e me impulsionaram a repeti-las para outras pessoas.

Os perfis preferidos foram: “História de um olhar”, “O chorador”, “Frida...” e “Eva contra as almas deformadas”.

“História de um olhar” é extremamente comovente, pois, trata de uma pessoa discrimininada, que passa a interagir em um ambiente escolar, com crianças que demonstram, através de seus depoimentos bondosos e inocentes, a vontade de integrá-lo entre elas. Além disso, a própria relação da professora com o aluno discriminado e sua inserção social, revela que ambos os lados podem sair beneficiados. Seja o aluno pela sua inserção, habilitação e aprendizado, seja a professora pelo sentimento de dever cumprido.

“O chorador” trata de um homem que mantém um hábito esquisito, mas que sobreutdo, envolve sentimentos, piedade, solidariedade, pelo simples fato que sente a dor da morte, mesmo das pessoas que nunca conheceu. Mesmo sendo questionado, ele enxerga razões de respeitar aquele momento, se fazendo presente, chorando um choro de angústia e extrema tristeza. A convicção de que aquele é o seu dever, o leva a manter o costume e defendê-lo para todos aqueles que não compreendem sua atitude. É como se fosse algo sublime.

“Frida...” é um perfil muito interessante. É o meu favorito nesse livro. Apresenta a história de uma senhora que se faz presente no meio de políticos, vivendo sua própria realidade, atividades, deveres, dilemas, amores e problemas. Em muitos momentos, a história de Frida, se assemelha a uma comédia, seja pela espontaneidade das suas atitudes, seja pela inocência da suas ações.

“Eva contra as almas deformadas” é uma lição de vida. Apresenta as adversidades de um ser humano, a luta, as derrotas, as vitórias, as dificuldades de um mundo coberto de preconceitos, desrespeito e desumanidade. Serve de incentivo, por ser o retrato da vontade, persistência, garra e coragem de lutar pelo que se quer.

Para concluir, ressalto que o livro é extremamente interessante. Desperta a vontade de ser relido na tentativa de nos aproximar, de novo, daquelas pessoas reais ali retratadas. Para os profissionais do Jornalismo, essa obra é a prova de que os perfis podem ser feitos sobre todas as pessoas e podem ser, sim, muito apaixonantes, porque todo o ser humano tem uma história única a contar.