quarta-feira, 13 de abril de 2011

PEREIRA JÚNIOR, Luiz Costa. A apuração da notícias: métodos de investigação na imprensa. Petrópolis, RJ: Vozes, 2006. Capítulos 3 e 4.
O autor Luis Costa Pereira Júnior compara as informações publicadas por jornais no dia posterior ao atentado das torres gêmeas em 11 de setembro de 2001, episódio que causou furor em todas as redações. Enquanto o Agora São Paulo estampa a capa com o número de mortos avaliado no início (10 mil), o Jornal do Brasil usa a fala do presidente Bush para determinar o número de vítimas (“milhares”). Somente um ano depois que foi consolidado o numero verdadeiro (3.025). Àquela época, muitas informações imprecisas foram passadas, inclusive por fontes confiáveis. Como não era possível dar a notícia em primeira mão, os jornais ficaram reféns das agências internacionais. Nessa situação, os rumores tomaram consistência de fatos. Editores de veículos brasileiros coordenavam a cobertura de um fato que nem a imprensa americana tinha domínio. Cada jornal criou estratégias para nortear a cobertura. O Estadão publicou, por exemplos, dados de cinco agências e seis jornais internacionais diferentes. Já a Folha de São Paulo evitou usar agências e utilizou as fontes mais exclusivas que tinha, mesmo que não houvesse pessoal suficiente no local do fato. Pereira entende que três motivos podem ter feito o Agora publicar as 10 mil mortes: a pressa, a confiança em agências e a propensão a apreciar tudo que causa espanto. As informações entre os veículos variaram por conta do procedimento, da forma como se comparou as informações de agências noticiosas e o modo como se calculou a solidez das fontes.
Para construir um sentido em jornalismo, é preciso reduzir as incertezas. Porém, o jornalista deve passar ao público uma versão inacabada dos fatos, com brecha para interpretações. O trabalho é dizer como aconteceu, mas o público que irá criar o próprio sentido da realidade. A notícia é construída no cuidado com a verificação, sobre o alicerce do levantamento das informações. É um jogo de versões e construção de realidades: o trabalho não termina ouvindo “o outro lado”. É preciso impedir publicação de versões que se anulam.
Pereira cita Ricardo Noblat, no livro A Arte de fazer um jornal diário, “não cabe ao jornalista transferir dúvidas para o público. Ele tem que apurar cada contradição entre as fontes, até que só haja só um dado em que confiar. O rigor deve partir da proposição de que cada linha só deve ser mantida se respaldada.
O autor diz que é preciso conjugar dois fatores para uma boa apuração: a incerteza e a solidez. Mesmo que busque unidade na “verdade” tem que estar aberto para não ignorar as versões possíveis. Pereira enuncia que a apuração é que distingue o jornalismo de literatura. Bill Kovach e Tom Rosenstiel, em Os elementos do jornalismo, observaram a falta de consenso entre profissionais do meio sobre os métodos de investigação. O autor considera que no jornalismo a aplicação de procedimentos rígidos não determina a confiabilidade do processo. A natureza da atividade faz com seja uma combinação da retórica, da ética e da técnica.
De forma geral, haveria três fatores que poderiam testar a apuração: o planejamento da apuração, a revisão do material apurado e a revisão das informações editadas. O planejamento apresentado pelo colombiano Daniel Semper, em 1991, em nome do Centro Técnico da Sociedade Interamericana de Imprensa une uma série de reflexões difusas no mercado sobre a evolução de uma investigação. Semper enumera quatro fases: a elaboração da pauta, a pré-produção, a produção e a pós-produção. Nesses setores do processo, estariam presentes a apuração preliminar, a utilização de critérios para avaliar as fontes e sua ordem de investigação, além do contato com os envolvidos. Para revisar o material apurado, há uma lista de checagem sistematizada pela Associação Norte-Americana dos Editores de Jornal com perguntas como a “Chequei ao menos duas vezes todos os nomes, títulos mencionados e informações citadas na matérias”, sobre a exatidão das informações e “A matéria é justa? Todos os indivíduos foram identificados, contatados e tiveram oportunidade de falar?”, sobre a importância da pluradidade na apuração.

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