segunda-feira, 11 de abril de 2011

Resumo: CAPUTO, Stela Guedes. “Notas gerais sobre entrevista”. In: Sobre entrevistas - teoria, prática e experiências. Petrópolis, Vozes, 2006, p. 46-54¹.

Neste capítulo extraído de Sobre Entrevistas – teoria, prática e experiências, a autora discorre sobre o que chama de “conjunto de ações, questões e comportamento” que todo jornalista deve ter ou adotar ao realizar qualquer entrevista. Num primeiro momento, a maioria dos tópicos parece banal, uma vez que devem ser atitudes de praxe de qualquer profissional de imprensa. Ainda assim, Stela Caputo assinala que são lições que podem passar despercebidas e até serem ignoradas completamente.

A autora inicia sua lista com o tópico que iniciaria a maior parte das entrevistas – o pedido de autorização para gravar e fotografar (uso da imagem). Há entrevistados que não querem ser identificados, bem como há aqueles que se incomodam com a gravação de suas declarações. O segundo tópico é um alerta para a necessidade de o repórter estar informado sobre seu entrevistado e sobre os assuntos que deverão ser perguntados. Caputo sinaliza que o jornalista pode cometer dois deslizes, em função disso. Seriam eles: a arrogância típica da profissão, que acredita que conhece todos os assuntos, além da própria negligência do profissional. A autora sinaliza que “ao cometer qualquer um desses erros, o jornalista certamente estará despreparado quando encontrar seu entrevistado” (p. 47).

É prudente, também, que o jornalista se prepare criando um roteiro. Tal roteiro não deve, entretanto, ser o único molde a ser usado. Perguntas devem ser criadas durante a conversa, tornando-a mais natural e menos “engessada”. É proveniente desse tópico o que ela vem a afirmar alguns parágrafos depois, ao dizer que o entrevistado dever ser ouvido com toda a atenção possível. Dessa forma, poderão surgir novas perguntas.

Caputo também recomenda que sejam feitos testes com o gravador antes de começarem a entrevista, bem como conferir as fitas e se o aparelho está realmente ligado. Para as matérias cotidianas, afirma que o bloco e a caneta são suficientes. Quanto ao tratamento para com o entrevistado, a autora diz que o entrevistador deve perguntar qual é sua preferência. Caso isso não seja possível, o tratamento por “senhor” ou “senhora” deve ser suficiente.

Um dos pontos cruciais de seu texto é quando Stela Caputo defende que o jornalista não deve aparecer mais que o entrevistado, reiterando a máxima que o entrevistador deve ser o mais discreto possível. “Podemos expor nosso pensamento, mas não estamos entrevistando a nós mesmos” (p. 49), sintetiza. Além disso, o jornalista não deve usufruir de idéias e argumentos oriundos de outrem como se fossem construções suas. Caputo diz que “acredita ser necessário deixar claras as referências e fontes com as quais construímos nossas entrevistas” (p. 49). A autora ainda sentencia que apesar de a principal função da entrevista ser conseguir declarações relevantes, o entrevistador deve ter em mente que há limites nessa relação quase simbiótica. Caputo diz que “ultrapassamos esse limite quando tentamos ser ‘espertos’ e insistimos na questão através de subterfúgios e alguns truques” (p. 50).

Um jornalista também não deve, em nenhuma hipótese, criar uma situação ou uma pessoa. Ainda que seja uma situação ou indivíduo muito provável de existir. A autora é clara ao defender esse preceito, que é um grave insulto à ética jornalística. “Em entrevistas, converse com quem existe” (p. 51), assinala. A entrevista deve ser feita com paixão – pela conversa, pela pesquisa, por ouvir o outro. “O resultado disso é um texto que não é feito só pelo jornalista, é feito de perguntas e repostas, é feito também pelo entrevistado e é feito também pelo leitor” (p. 51). Assim, também é importante destacar a pergunta final ao entrevistado – se ele tem mais alguma consideração a fazer. A autora frisa que não é o entrevistador quem deve decidir quando será o fim da entrevista. “Os dois precisam estar de acordo. A entrevista precisa ser boa para os dois” (p. 52).

Após uma reflexão sobre como “perder o fio” e “reencontrá-lo”, encontrando o ponto certo da escrita, a autora põe-se a falar sobre a edição da entrevista. “O coração pode doer, as lágrimas podem cair, mas é preciso aprender a cortar” (p. 53), diz Stela Caputo, após discorrer sobre como o tamanho da entrevista gravada sempre tenderá a ser muito maior do que o espaço disponível para ela no veículo em que será publicada. É também na edição que o jornalista poderá separar os assuntos por blocos, que facilitam a leitura.

Quanto ao título e os olhos da entrevista, a autora diz que devem ser uma frase que resuma o espírito da entrevista e uma boa frase, além do título, respectivamente (p. 54). Escolhidos os dois, é o momento de o repórter fazer a revisão. Para Stela, “a edição é o momento em que o jornalista tece, pinta, esculpe – é realmente um momento de arte” (p. 54).

¹ Paginação referente ao livro digitalizado, disponível em: http://pt.scribd.com/doc/10059988/Stela-Guedes-Caputo-Sobre-Entrevistas.

Por Thais Borges

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